A primeira vez
Olhando o blog um dia destes, estava achando o mesmo um tanto frio, impessoal e similar a tantos outros blogs de gastronomia que existem por aí, onde só vemos receitas e mais receitas e as manjadas recomendações de produtos e serviços.
Deixemos então o calor do fogão de lado e vamos dar um pouco mais de calor humano ao Pérolas da Degustação. Hoje resolvi escrever um pouco a meu respeito e a respeito de minhas motivações gastronômicas.
Olá, caro leitor! Me chamo Marcelo e moro em Manaus, Amazonas, uma das capitais mais exóticas e quentes do Brasil, com uma gastronomia que é bastante peculiar e completamente embasada em coisas que são encontradas apenas aqui.
Peixe, farinha de mandioca, determinadas especiarias são os itens primordiais na mesa do amazonense. Todas, em grande parte, oriundas da herança indígena, a mais forte das três vertentes humanas que aqui se instalaram. Falo em vertentes porque não acredito no conceito errôneo e banal de raças, que divide o mundo entre negros, brancos, amarelos e vermelhos: a raça que existe é uma só, a humana.
Discussões a parte, conhecer e vivenciar uma gastronomia rica como a do meu Estado serviu muito para despertar a paixão pelo assunto em mim, seja como voraz comensal ou como um chef de cozinha ocasional que um dia pretende profissionalizar-se.
Mas hoje deixarei os planos futuros de lado e falar da minha mais remota lembrança dentro de uma cozinha. Vejamos... Lembro do projeto inicial de nossa casa, a qual vivemos há mais de 30 anos com uma cozinha bem minúscula onde nem a geladeira cabia (esta ficava na sala). Minha mãe está preparando o almoço e eu estou ao redor dela com uma fralda no ombro e tomando café com leite numa mamadeira. O dia é chuvoso e escuro.
Já me disseram diversas vezes que a minha memória é incrível e com o tempo, lendo o que escrevo, você se surpreenderá com ela. Portanto, se prepare.
Minha primeira experiência como cozinheiro já foi meio que catastrófica. Sem pais à vista em casa, eu e meu primo Experidião Neto resolvemos nos aventurar no fogão. E a escolha do cardápio não poderia ter sido a mais óbvia: ovo frito.
Seguimos todos os passos corretamente. Fritamos o ovo até direitinho. O problema foi a escolha da panela. Em vez de usar a frigideira, usamos uma panela meio comprida. Na hora de tirá-la do fogão é que veio a desgraça. Inocentemente encostei-a na minha na barriga e o estrago veio em forma de queimadura.
Nunca esqueci desse episódio. E aqui confesso-lhes uma pequena peculiaridade ao meu respeito: eu nasci com duas cores de pele diferentes: um lado do corpo moreno e outro branco, por conta de um eclipse lunar que minha mãe não terminou de assistir. Essa lembrança me veio bem agora porque a queimadura marcou bem o meio do encontro entre as duas cores... hehehe!
Sem ninguém em casa, o jeito foi apelar para a vizinhança. E depois esperar a bronca da minha mãe quando ela chegou logo depois, porque não tinha ido muito longe com a minha tia, mãe do meu primo cúmplice, que saiu ileso da história.
O sinal de nascença sumiu com o tempo (o branco prevaleceu sobre o moreno) e deixei de ter apelidos detestáveis como “café-com-Leite” e “encontro-das-águas”. Mas a lembrança do meu primeiro cardápio eu jamais esquecerei, assim como suas dolorosas conseqüências.
Até a próxima!
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